Seguindo o movimento das redes, vemos a mais nova treta da internet, o repúdio em massa das inteligências artificiais e suas capacidades de “fazer arte”. A nova trend de converter fotos em desenhos através de IA’s levou à loucura várias pessoas, tanto apoiando quanto criticando tais ações.
Em meio a uma certa bolha condenando essa ferramenta, vemos argumentos na linha “uma máquina nunca substituirá a capacidade humana de fazer arte”, ou também “esse tipo de ferramenta acaba com os verdadeiros artistas”, vemos muitas pessoas sendo arrastadas para mais um debate vazio, onde para muitos, o foco é bradar virtudes, enquanto que para outros é canalizar essa energia em prol de objetivos nada virtuosos.
Dentre todas essas vocalizações, repete se uma palavrinha mágica e recorrente, a dita “regulamentação”, onde para as massas desorientadas e superficiais, não compreendem os verdadeiros ímpetos daqueles que gostariam dessa situação. Em um país onde a maior parte dos grandes negócios sobrevive de monopólio, não é improvável de se concluir onde podemos chegar com essas ditas regulamentações.
Artista virtuoso X Artista profissional
Um pensamento vigente hoje é a do artista virtuoso, onde este faz a arte pelo amor a sua arte, para expressar sentimentos etéreos quase transcendentais, o fazer importantes críticas a determinada coisa, dando se uma importância que nem os grandes mestres se davam, onde qualquer obra mesmo que esdrúxula toma uma proporção gigantesca, mesmo que só na mente das pessoas que se retroalimentam desse tipo pensamento.
É claro, essa é uma generalização e nem todos os artistas são assim, nem pensam desta maneira, porém já é um tipo de visão que caiu num certo imaginário popular, porém uma realidade pouco observada sobre a arte e o artista é a de que quando falamos de um profissional das artes (músico, pintor, escritor, etc…), lidamos com uma pessoa habilmente capacitada dentro de seu ramo de atuação, como qualquer outro profissional do mercado vendendo seus serviços ou produtos. Essa forma de encarar o mundo da arte parece ter sido em muito esquecida, ou ignorada, grandes obras como a capela sistina, por exemplo, foram uma encomenda a um artista, sem a pretensão de chegar a relevância que tem atualmente.
Analisando o desenvolvimento da civilização, do capitalismo até o formato atual, a industrialização e serialização dos produtos, vemos as expressões artísticas seguindo um caminho semelhante até obter produtos serializados, aos quais eu comparo a ideia de um fast food, tornando se uma substância minimamente palatável, sem grandes experiências, levemente agradável e com tons familiares, satisfazendo assim uma grande maioria das pessoas.
No caminho contrário, encontramos obras altamente gourmetizadas, contendo várias técnicas e ingredientes diferentes e inovadores, com conceitos e tudo mais que há direito, também encontramos produtos de nicho, produtos mais caros e mais baratos, destinados às mais variadas classes, poderes aquisitivos e formatos, tudo e de toda a forma para agradar e satisfazer o cliente.
Como em qualquer outro produto no mercado, encontramos muitas opções para todos os gostos, para todas as formas de pensamento e para todos os críticos sociais de plantão. Ainda sim possuímos grandes obras, com verdadeiro valor artístico, com artistas virtuosos, fazendo ou não sucesso, vendendo ou não seus produtos.
O que venho propor neste breve texto, não é desmascarar algum tipo de teoria da conspiração, nem “críticas a burguesia e o capitalismo”, pois sempre que o mundo foi mundo, é normal a troca de bens de interesse uns pelos outros, mesmo sendo estes tanto produtos culturais quanto físicos. Meu intuito neste texto é trazer uma reflexão, onde o mundo é menos virtuoso o quanto muitos de nós gostaríamos que fosse, que o artista também pensa em comer e pagar suas contas, que mesmo visando em retorno monetário, ainda sim podemos ter um amor e cuidado com nossa arte.
Definir o que é arte e quem é um artista é uma tarefa difícil, hoje sabemos que uma IA, como também uma impressora, não passam de ferramentas de criação, mesmo imitando o estilo de um artista, ainda sim não passam de uma imitação, não muito diferente de uma pessoa copiando um desenho e traço de outro, o problema aqui nessa tentativa de cancelamento de uma nova ferramenta é uma outra, é mais uma vez a tentativa de barrar o avanço de uma nova tecnologia em detrimento de um grupo em específico.
Minha opinião sincera sobre isso é de que como todos os outros segmentos, este também será afetado, em muito naquele material “fast food”, mas mesmo assim ainda haverá espaço para artistas virtuosos e quaisquer formas de suas artes.