Situada em Belém, essa maravilhosa obra de engenharia e jardinagem vem como paliativo (para não chamar de gambiarra), para tentar trazer uma solução a uma cidade que não é verde e não foi pensada assim.
Disfarçar anos e anos de descaso em relação aos moradores e ao meio ambiente local é uma tarefa quase que hercúlea, onde transmutar todo um ambiente para que ele se torne uma pseudopaisagem para agradar meia dúzia de pessoas em alguns dias de evento (COP 30), fingindo algo que não existe, é no mínimo cômico e um tanto trágico.

A ideia em si não é ruim, utilizar materiais reciclados e plantas de pequeno porte com hábitos de trepadeira pode ser uma boa opção para um espaço que não permite o uso de algo maior, porém a ironia é usar isso em uma cidade no meio da maior floresta do mundo. Até aí tranquilo, pois o forte da nossa classe política nunca foi a coerência, ao contrário, não apenas eles mas o brasileiro de uma forma geral é muito bom em tentar parecer algo que não são.
Em meio a toda essa “polêmica”, da árvore que não é árvore nos deparamos com a triste e esmagadora realidade, realidade essa que é exemplificada pelos moradores de Belém e de muitas outras mais cidades que em condições similares, sofrem com o descaso do poder público e em muito também da própria população. Vemos uma cidade completamente despreparada, não apenas para receber um evento internacional ou coisa do tipo, mas também de condições básicas de vida. Problemas básicos e de suma importância como o saneamento básico da região ainda não foram minimamente sanados, isso falando de uma cidade com mais de um milhão de habitantes e com seus quatrocentos anos de idade, no meio de um dos biomas mais importantes do planeta.

Em 2020 a cidade foi a campeã de internações por problemas ligados ao saneamento básico, no primeiro semestre do mesmo ano, 7% dos leitos estavam ocupados por pacientes com doenças relacionadas com a ausência de tratamento da água contaminada pelo esgoto não tratado.
Belém está classificado em penúltimo lugar no ranking nacional de saneamento básico publicado em 2021 pela ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária). Os números apontam que em 71,50% da população é abastecida com água, 15,77% da população têm acesso à coleta de esgoto, e apenas 3,53% deste esgoto recebe algum tipo de tratamento. Em setembro de 2021, a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) apresentou um projeto de desenvolvimento de saneamento do Pará (Prodesan). Financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o governo do Estado do Pará, o projeto teria por objetivo melhorar as a qualidade de distribuição de água tratada e saneamento básico na região. Há a expectativa da conclusão de parte desse projeto para a COP 30, porém dado o histórico em nosso país, o resultado final é imprevisto.
Enquanto se segue a polêmica sobre uma árvore artificial para mais um evento sem resultados, o que realmente importa é mais uma vez deixado de lado.