O secretário do Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, anunciou que produtos como café e cacau, que não são cultivados em solo americano, podem ser isentos de tarifas comerciais. Sem especificar quais países serão beneficiados, ele defendeu as tarifas como uma ferramenta para corrigir desequilíbrios no comércio global. A declaração veio em entrevista à CNBC na manhã de terça-feira, 29 de julho de 2025.
Para o Brasil, onde os EUA mantêm superávit comercial, o presidente Donald Trump justificou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, apontando o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas americanas. O café, um dos pilares das exportações brasileiras, está entre os produtos mais afetados. Lutnick também revelou que, nas próximas duas semanas, tarifas “massivas” serão aplicadas a produtos farmacêuticos de empresas sem fábricas nos EUA.
Sobre negociações comerciais, Lutnick destacou a urgência imposta por Trump: “Acordos que levam décadas, ele quer prontos agora.” O prazo final para imposição de tarifas é 1º de agosto, e os países precisam abrir seus mercados rapidamente. Trump decidirá quem fecha acordos ou enfrenta tarifas, incluindo a Índia. Já com a União Europeia, Lutnick celebrou o recente acordo comercial e expressou interesse em negociar a eliminação de impostos sobre serviços digitais.
A nova abordagem econômica dos Estados Unidos, marca um momento de inflexão na geopolítica global. Com uma postura mais protecionista e assertiva, os EUA buscam reequilibrar suas relações comerciais, priorizando os interesses nacionais. Essa estratégia combina tarifas seletivas com negociações agressivas, visando fortalecer a economia interna e consolidar o novo formato da influência americana no cenário internacional. A isenção de tarifas para produtos como café e cacau, que não são cultivados localmente, reflete uma forma de manter acesso a bens fora do escopo de produção americana enquanto pressiona por acordos comerciais mais favoráveis, sinalizando uma governança que equilibra pragmatismo e protecionismo.
O que é o protecionismo econômico?
O protecionismo econômico é uma política que busca proteger a indústria e o mercado interno de um país por meio de barreiras comerciais, como tarifas de importação, cotas ou regulamentações que dificultam a entrada de produtos estrangeiros. O objetivo é fortalecer a produção local, preservar empregos e reduzir a dependência de importações. No entanto, quando mal aplicado, pode elevar custos, limitar a inovação e criar distorções no mercado.
Protecionismo no Brasil
No Brasil, o protecionismo é amplamente adotado com o discurso de proteger a indústria nacional, mas frequentemente revela inconsistências. Altas tarifas são impostas a produtos importados para incentivar a produção local, mas isso nem sempre funciona como esperado. Muitos insumos e produtos sem equivalente nacional — como semicondutores, máquinas industriais (ex.: tornos CNC), equipamentos médicos avançados (ex.: tomógrafos) e até certos produtos químicos usados na indústria — enfrentam tributação elevada, como o Imposto de Importação e o IPI, mesmo sem concorrentes locais. Isso encarece a produção, reduz a competitividade de empresas brasileiras e impacta o consumidor final com preços mais altos.
Reflexão: monopólios, subsídios e estagnação
A política protecionista brasileira, combinada com altos subsídios a setores específicos, como o automotivo e o de eletrodomésticos, muitas vezes cria monopólios ou oligopólios. Empresas beneficiadas por incentivos fiscais, como isenções de ICMS ou financiamentos do BNDES, enfrentam pouca concorrência externa devido às barreiras tarifárias. Isso reduz a pressão por inovação, levando a uma estagnação tecnocientífica. Muitas indústrias brasileiras, por exemplo, utilizam métodos produtivos defasados, como em partes do setor têxtil ou de manufatura, porque não precisam competir com tecnologias mais avançadas de fora.
Além disso, o Brasil impõe uma carga tributária trabalhista elevada (como FGTS, INSS patronal e outros encargos) e um emaranhado de exigências burocráticas, como licenças e certificações complexas. Esses fatores desencorajam empresas estrangeiras de se instalarem no país, fechando o mercado para novos entrantes. A combinação de protecionismo, subsídios e barreiras cria uma desproporção: enquanto algumas empresas nacionais se beneficiam, o consumidor enfrenta preços altos e produtos menos inovadores, e o país perde oportunidades de crescimento econômico e tecnológico. A falta de concorrência externa perpetua um ciclo de ineficiência, onde a ausência de pressão por melhoria limita o avanço de indústrias e a economia como um todo.