O mês de Agosto de 2025 começou com uma polêmica, a adultização, termo usado por Felca (Felipe Bressanim Pereira) sobre os perigos da internet e sexualização dos menores de idade. Algo que infelizmente não é de hoje, nem algo exclusivo da internet.
Atenção: Essa matéria não é sobre a regulamentação das redes. Essa medida está longe de se quer arranhar o problema. Mais adiante mostraremos como isso tem raízes profundas em nossa cultura já a partir dos anos 90. É importante que fiquem até o final.
O ambiente web pode ser um terreno perigoso para os jovens apesar de suas utilidades. Desde a proliferação de conteúdos prejudiciais até a possível dependência de redes sociais. O que parecia uma revolução na comunicação pode, na verdade, criar barreiras emocionais e prejudicar a concentração dos jovens. Além disso, entre os problemas mais notáveis temos:
- Exposição a conteúdos cuja mente juvenil ainda não está preparada para lidar;
- Cyberbullying, que pode incentivar comportamento inapropriado;
- Dependência de redes sociais, muito semelhante ao efeito de vício narcótico;
- Como consequência de vários desses problemas mencionados, observam-se danos à saúde mental e dificuldade de se concentrar em atividades menos intensas, como a leitura de um livro.
Tratando agora mais particularmente do termo que está ganhando atenção, adultização, a monografia de Delcimaria Dantas de Araújo (2016) trouxe essa leitura ao Brasil inspirada no autor Neil Postman, que escreveu sobre o desaparecimento da infância quando os jovens são submetidos ao conteúdo exposto nas mídias. Olhando para o caso Brasileiro, podemos notar que o nível de degradação para o jovem é muito maior. Ainda é possível perceber uma certa dissonância, enquanto a escola não oferece desafios, respeitando o potencial juvenil de crescimento, também existem casos em que presume-se que o jovem pode ter senso crítico ao trazer assuntos que nem mesmo os adultos são capazes de lidar. Isso revela o quão problemático é para o Brasil encaminhar seus jovens para um rumo razoável de crescimento.
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Quando dizemos que um determinado assunto é inapropriado para o jovem adolescente, estamos dizendo que não há um preparo psicológico que apenas a maturidade biológica oferece. A mente juvenil fresca é vulnerável aos estímulos mais primitivos, como por exemplo, uma criança viciada em doces que incomoda sua mãe, sempre pedindo mais doces, afinal é de nosso instinto preferir alimentos mais calóricas.
Ao insistir publicamente para apelações de cunho sexual, cria-se um ambiente com fortes estímulos que podem fazer com que os jovens priorizem esse tipo saciação, tornando coisas básicas e importantes para o desenvolvimento desse jovem, como leitura e valores saudáveis, menos interessantes para sua visão imatura e mal orientada.
Com a degradação da cultura brasileira, esse tipo de conteúdo se tornou fartamente incentivado, levando à sua banalização. Quando assuntos indevidos se normalizam ao olhar do jovem, é certa sua depravação. É possível ver a depravação já a partir dos anos 90, quando em rede nacional, programas como Xuxa (Funk e bailarinas apelativas), quadros como piscina do Gugu (mulheres seminuas) e entre vários outros, podiam ser vistos sem questionamento sobre seu impacto na juventude.
Não é incomum encontrar, ao redor do Brasil, conteúdo potencialmente danoso ao jovem sendo exposto livremente. Há um problema na própria cultura brasileira onde aquilo que pertence à vida adulta se confundindo com a juventude. Como povo, pecamos em proteger as novas gerações dos calores da sociedade e das coisas que deveriam pertencer apenas à vida adulta. O resultado prático é a doutrinação duvidosa e destruição do potencial produtivo desses jovens.
O uso das redes sociais por adolescentes pode ter impactos negativos, dependendo de fatores como tempo de uso e tipo de conteúdo acessado. É essencial que toda atividade seja supervisionada por adultos. Devidamente orientada, a experiência envolvendo conteúdos da internet pode ser uma ferramenta de aprendizagem.
J. P. Marques
Revista Educação & Ensino, em maio de 2025
Entendemos até aqui os problemas que afetam o comportamento e o interesse dos jovens, porém, há também tipo de dano envolvendo a relação entre os próprios jovens e subculturas que podem levar ao desenvolvimento confuso e distorcido sobre o mundo real. Ao que tudo aponta, será cada vez mais necessário restringir o acesso web para jovens e adolescentes, uma resposta que deve vir das escolas e das famílias. Não estamos falando sobre tirar acesso para ferramentas úteis, mas sim de um acesso ilimitado.
A tendência para o bom proveito da internet é o acompanhamento adulto. Caso contrário, os jovens estarão sujeitos aos problemas mencionados anteriormente, como, aumento de sintomas de ansiedade, depressão e baixa autoestima. Inclusive, Hanna Arendt, que trouxe contribuições para filosofia política, em seu texto sobre a crise da educação, ela diz o seguinte:
A criança vive em um mundo próprio, uma espécie de microssociedade, que não pode ser abandonada a si mesma sem o risco de degenerar.
Dado que já compreendemos que o jovem não pode ficar a própria sorte, isso vale para os espaços online, onde jovens trocam pensamentos sobre um mundo que não compreendem e podem cultivar uma visão distorcida e confusa da realidade, prejudicando seu julgamento depois da maturidade.
A escola pode e deve auxiliar nesse sentido, tanto evitando contato desnecessário com o mundo web, quanto garimpando e oferecendo o que há de melhor. O Brasil carece de profissionais da educação que sabem reconhecer e trazer conteúdo produtivo para seus alunos.
Para dar um exemplo bem simples, porém interessante, de algo que pode ser acessado pela internet, podemos trazer uma animação japonesa, um conteúdo que reflete bons valores do povo japonês. Algo que entretém o jovem e que ao mesmo tempo possa influenciá-lo de maneira positiva. Vamos tratar da obra “How a Realist Hero Rebuilt the Kingdom”, traduzido para o português, como um herói realista reconstrói um reino.
O nome da obra já revela muita coisa sobre sua proposta. Basicamente se trata de uma história que mostra em detalhes o enfrentamento político de um jovem que assume o estado para salva-lo. A jornada é repleta de desafios que a humanidade já enfrentou e resolveu com sérias políticas de estado. Desde investimento do pouco que restava da riqueza do reino para desenvolvimento de infraestrutura, favorecendo o comércio do reino, até enfrentamento de dissidência interna com interesses contrários ao do reino. Coisas que podem instigar o jovem a desenvolver parâmetros sobre o que seria uma boa atuação estatal.
Para finalizar, reparem como é possível orientar os jovens num acesso limitado, regrado por horários e intenção didática. Como podemos ver, será necessário que profissionais busquem identificar o recomendar os conteúdos mais proveitosos, ainda assim, o que realmente importa é perceber que podemos inverter o dano que a tecnologia pode causar por um potencial produtivo. Com esse intuito implantado na cultura, podemos buscar corrigir algo que negligenciamos nas últimas décadas, a modernização da educação que realmente traga resultados. Até nosso próximo encontro, prezados leitores.
