O influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, tornou-se uma das vozes mais contundentes contra a promoção de apostas online no Brasil. Com quase 20 milhões de seguidores no Instagram, TikTok e YouTube, o jovem de 26 anos, nascido em Londrina (PR), recusou uma proposta de R$ 50 milhões para divulgar casas de apostas, como revelou em vídeos recentes. Convidado pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, Felca promete trazer à tona os bastidores de um mercado que movimentou R$ 120 bilhões em 2024, mas que deixa um rastro de prejuízos financeiros e psicológicos para milhões de brasileiros.
A CPI das Bets, instalada em novembro de 2024, investiga a influência de jogos de azar online no orçamento das famílias e possíveis irregularidades, como lavagem de dinheiro e fraudes. Felca ganhou destaque ao criticar colegas influenciadores que promovem plataformas como o “Jogo do Tigrinho” (Fortune Tiger), apontado como um dos mais populares entre apostadores de baixa renda. “A sensação que dá é que a CPI é um grupo de amigos brincando, mas o que estão discutindo é extremamente sério. É uma questão de saúde pública”, disse Felca, reagindo ao depoimento de Virginia Fonseca no Senado em 13 de maio de 2025.
O caso de Virginia, que perdeu cerca de 500 mil seguidores no Instagram após seu depoimento, ilustra a controvérsia. Dias depois, ela apareceu cantando uma música com o trecho “bota bunda com o dinheiro do tigrinho” no reality show de Carlinhos Maia, gerando críticas por trivializar um tema que afeta a saúde mental de muitos.

Felca sugeriu que a CPI deveria ouvir vítimas de ludomania, transtorno reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma dependência com sintomas semelhantes à de substâncias químicas. “Coloquem uma pessoa viciada, que perdeu tudo, ao lado desses influenciadores. Vamos ver o resultado disso que eles promovem”, disparou.
Felca revelou ter recusado um contrato de R$ 50 milhões por três meses para divulgar apostas, uma decisão que, segundo ele, priorizou seus princípios. “R$ 50 milhões compram minha consciência? Não. Eu recusei. Muitos vão me chamar de burro, mas eu durmo tranquilo”, afirmou em vídeo. A convocação para a CPI, anunciada por Thronicke em 19 de maio no podcast Inteligência Ltda., reflete a relevância de sua postura. “Ouvi-lo é de extrema importância. Quero ver se os políticos que fizeram graça terão coragem de fazer o mesmo com você”, disse a senadora, desafiando parlamentares que minimizaram a gravidade do tema.

O influenciador começou sua trajetória em 2012 com lives de jogos, mas ganhou fama com conteúdos de humor, como o vídeo Testei a base da Virginia, que atingiu 19 milhões de visualizações no YouTube em 2023. Sua crítica à promoção de apostas não é nova: Felca já produziu lives e vídeos alertando sobre os riscos do vício, especialmente entre jovens, que representam 60% dos usuários de plataformas como Bet365 e Blaze. A CPI, com prazo até 14 de junho de 2025, busca entender como essas campanhas são estruturadas e seus impactos sociais.
A senadora Thronicke, relatora da CPI, destacou que Felca oferece uma perspectiva única sobre as pressões do mercado. “Não é só sobre dinheiro. Eu prezo o impacto do meu conteúdo, principalmente nos mais jovens. Essa parceria não condiz com o que acredito”, declarou Felca, reforçando sua posição ética. A CPI já revelou indícios de fraudes, como bônus enganosos e manipulação de resultados em eventos esportivos, além de suspeitas de lavagem de dinheiro. Em 2024, a Polícia Federal identificou movimentações financeiras suspeitas em contas ligadas a plataformas, intensificando as investigações.
O mercado de apostas online, embora legalizado pela Lei 13.756/2018, opera em um vácuo regulatório. A demora na criação de normas específicas permitiu a expansão desenfreada do setor, que atrai jovens com promessas de ganhos rápidos. Estudos apontam que 1% da população brasileira sofre de ludomania, com impactos devastadores, como dívidas e transtornos como ansiedade e depressão. Thronicke propõe medidas como a criação de uma agência reguladora, limites de apostas diárias e um fundo para apoiar vítimas, financiado por impostos do setor.
A audiência de Felca, marcada para a próxima semana, promete ser um divisor de águas. Diferentemente de outros influenciadores, como Virginia Fonseca e Rico Melquiades, que usaram o direito ao silêncio, Felca planeja expor detalhes das propostas que recebeu e criticar a falta de transparência nos contratos. “Enquanto a proposta for milionária e a certeza for de impunidade, o dinheiro vai falar mais alto”, alertou. Sua presença deve ampliar a visibilidade da CPI, pressionando por regulamentações que protejam consumidores vulneráveis.
O escândalo das apostas online expõe uma realidade alarmante: plataformas lucram bilhões enquanto famílias enfrentam falências. A postura de Felca, que abriu mão de uma fortuna por ética, contrasta com influenciadores que promovem o “tigrinho” sem considerar as consequências. A CPI das Bets, sob a liderança de Thronicke, tem a chance de propor mudanças estruturais, mas precisa superar resistências políticas e do setor. Até lá, vozes como a de Felca são essenciais para lembrar que o jogo, para muitos, é uma promessa vazia que destrói vidas.