Muitas pessoas que se julgam capazes de ter uma visão realista sobre mundo na verdade também costumam cair em golpes, que, na maior parte das vezes, são golpes sutis de difícil identificação. Acompanhe essa matéria filosófica sobre uma “nova” modalidade de golpes que inúmeras pessoas estão caindo.
Em tempos em que aposentados são roubados por ONGs ligadas ao INSS, em um país que carece de moral, o nosso Brasil, existem golpes para todos os gostos. Apenas pessoas com uma grande noção de realidade são capazes de evitar serem pegas por uma enganação.
Golpes existem justamente por serem baseados nas fraquezas humanas, pontos comuns de uma certa cultura que podem ser explorados. Nenhum de nós está à salvo quando nossos princípios intelectuais e visão de mundo são moldados em um ambiente caótico de cultura mista como o Brasil.
Acompanhe até o fim se você acha que a ingenuidade dos outros não é problema seu. Pense o seguinte: quando os golpes viram epidemia, a conta também chega para a sua família e/ou seu negócio.
Para termos uma noção, este autor que escreve tem certeza de que a grande maioria dos leitores considera a aparência um requisito mínimo de seriedade profissional. Na verdade, a maioria de nós superestima as aparências, embora elas sejam, de fato, uma fonte valiosa de pistas a serem consideradas. Vejamos o que Nassim Nicholas Taleb, ex-trader reconhecido mundialmente e autor de livros como A Lógica do Cisne Negro e Antifrágil, que mudou a maneira como o setor financeiro calcula riscos, disse sobre isso.
Quando tiver que escolher entre um médico de jaleco impecável e outro que parece ter matado um porco para o jantar, vá com o segundo. A probabilidade é que ele esteja ali não pelo visual, mas porque é bom demais para ser ignorado — mesmo parecendo um açougueiro.
Nassim Nicholas Taleb
Claro, parece óbvio que as aparências podem nos enganar, porém as aparências não dependem apenas de roupas ou cabelo feito, mas também de gestos, maneiras de se expressar e qualquer outra coisa percebida pelos nossos sentidos. Agora que colocamos isso na mesa, vamos explorar o que realmente é um estelionato e como os golpes têm sido aplicados, para além dos golpes óbvios que todos conhecemos.
No ofício da filosofia comprometida com a ciência, há uma preocupação em alcançarmos aquilo que chamamos de verdade, o que no fim significa compreender o mundo como aquilo que se impõe, que não depende de nossas particularidades. Neste sentido, vamos buscar uma definição clara de estelionato.
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Estelionato — conforme o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2009):
Crime que consiste em obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.
Neste caso podemos considerar como crime contra o patrimônio previsto no artigo 171 do Código Penal Brasileiro. Porém, ainda que não devidamente regulamentado, podemos estender o entendimento para qualquer outro tipo de ganho baseado na indução ao erro de pessoas, como por exemplo, o estelionato político.
Usaremos agora o artifício mais adequado para verificar interpretações e concepções de palavras, o ChatGPT. O GPT (Generative Pre-trained Transformer) é uma ferramenta eficaz para explicar significados e conceitos por incluir o conhecimento de diversos dicionários, enciclopédias, textos jurídicos e fontes confiáveis, oferecendo explicações claras, contextualizadas e atualizadas conforme o uso real da língua. O modelo de linguagem treinado pela OpenAI, com base em amplo corpus textual da língua portuguesa, legislação brasileira e materiais acadêmicos, formulou o seguinte texto:
Estelionato Eleitoral — O termo estelionato eleitoral é amplamente utilizado no discurso político e jornalístico, mas não é tipificado como crime específico no ordenamento jurídico penal brasileiro. Trata-se de uma expressão figurativa usada para descrever situações em que um político, após ser eleito, adota decisões contrárias às promessas que fez durante a campanha, especialmente quando essas promessas foram centrais para sua eleição. Por exemplo, um candidato que se elege prometendo não privatizar estatais, mas que, logo após assumir o cargo, inicia um programa de privatizações, pode ser acusado de “estelionato eleitoral”. Embora tal conduta represente uma quebra de confiança com o eleitorado, ela raramente gera responsabilização legal direta, a menos que envolva propaganda enganosa ou outros abusos previstos na legislação eleitoral.
Em outras palavras, estamos considerando casos em que uma certa pessoa, visando um ganho eleitoral e econômico (salários da elite dos funcionários públicos), se utilizou de verbas de campanha eleitoral para este fim. É ou não um ganho ilícito baseado no engano de pessoas? Ainda assim, como mencionado anteriormente, estamos mirando golpes sutis de difícil identificação. Os estelionatos eleitorais geralmente são apresentados em contextos de suposta justificação, ou seja, casos em que o político em questão elabora desculpas para sua conduta. Por outro lado, existem realmente desafios entre uma proposta e sua execução, por tanto as pessoas também podem interpretar uma negociação saudável como estelionato. O desafio é mais complicado do que as pessoas podem imaginar.
Para evitar esse tipo de confusão, basta olhar para as consequências práticas da conduta, se existe um ganho ou um dano substancial. Muitas vezes só o tempo nos diz se a decisão foi ou não de interesse pessoal do político em questão.
Por fim, um indício que pode facilitar a interpretação do caso é a transparência. Se o político presta contas de maneira aberta, sem omissões ou tentativas de esconder algo, responde devidamente à questionamentos feitos de maneira adequada, é provável que sua atuação esteja dentro do aceitável.
Outros (Novos) Tipos de Estelionato
O mundo evangélico, do day trade, das finanças, do empreendedorismo, vários âmbitos essenciais para vida humana moderna, estão cercados de picaretas. O estudo do Marketing e Publicidade, junto de exemplos práticos de golpe, criaram no Brasil um conjunto de conhecimentos para a exploração da percepção humana. Estamos falando de bilhões de reais gastos em atividades não produtivas que prejudicam os brasileiros.

É difícil estimar quanto exatamente as pessoas perdem com estelionato, mas podemos estimar com base em dados da Receita Federal.
Igrejas neopentecostais e similares
Em 2023, o setor religioso no Brasil movimentou cerca de R$ 35 bilhões, segundo estimativas da Receita Federal. Uma parcela significativa desse valor vem de dízimos e ofertas — muitas vezes incentivadas com promessas de bênçãos materiais, o que pode flertar com práticas abusivas.
É impossível dizer com precisão quanto desse valor está ligado a manipulação ou abuso da fé alheia, mas há inúmeros processos e denúncias públicas de líderes religiosos que usam o discurso religioso para enriquecer pessoalmente.
No mundo financeiro, até mesmo corretoras de grande credibilidade como a XP são suspeitas de algum tipo de indução infiel de gastos. No ano de 2024 a XP foi processada por vários investidores cujo prejuízo foi estimado em 18 milhões de reais. Supostamente vários escritórios envolvidos de alguma maneira ligados à XP lucraram com o caso.

Setor de coaching
O mercado de coaching no Brasil é avaliado em cerca de R$ 1 bilhão por ano (estimativas do Instituto Brasileiro de Coaching e Sebrae). Uma parte desse valor está ligada a práticas profissionais sérias, mas o crescimento explosivo do setor também facilitou a proliferação de “coach charlatões”, com discursos motivacionais vazios e pouca formação.
O uso de gatilhos emocionais, fórmulas de sucesso milagrosas e eventos pagos com conteúdo raso são comuns.
Esses são apenas alguns exemplos, ainda poderíamos levar em conta diversos outros tipos de prejuízo baseado na confiança em artistas e figuras influentes. Nem se quer mencionamos o mercado das Bets, ou o famoso “tigrinho” que está escoando o bolsa família, que deveria promover a ascensão social dessas pessoas.
Agora, aqui está uma tabela para visualizarmos melhor uma estimativa (otimista) aproximada de prejuízo:
Setor | Estimativa de gasto anual questionável |
---|---|
Igrejas com práticas abusivas | R$ 5 a 10 bilhões |
Coaching superficial/abusivo | R$ 300 a 600 milhões |
Pirâmides e esquemas similares | R$ 5 a 10 bilhões |
Total estimado | R$ 10 a 20 bilhões por ano |
Enquanto bilhões são drenados por promessas estelionatárias, é menos dinheiro circulando no mercado real — inclusive longe de nossos caixas, da loja ou do negócio de nossos leitores. O golpe que parece distante, na verdade, desvia clientes do seu caminho.

Podemos concluir que estamos constantemente prestes a escorregar no próximo golpe. Ao mesmo tempo, não é saudável desconfiarmos de toda e qualquer pessoa, algo que pode resultar em catástrofes sociais. Sendo assim, a melhor maneira de combatermos essa crise é com circulação responsável de informação.
Ainda teríamos que discutir a importância de uma sociedade baseada em confiança, o que é confiança e as consequências de sua falta no ambiente social. Essa é uma discussão para uma próxima oportunidade, não deixem de acompanhar.