Antes do amanhecer, milhões de brasileiros iniciam a rotina. Não há nomes ou rostos distintos, apenas o peso coletivo de aspirações modestas: uma casa própria, um carro para a família, uma máquina de lavar, uma televisão para o descanso, um aluguel que não consuma o salário. São necessidades básicas, a busca por uma vida confortável, sem grandes ambições. Mas, no Brasil de 2025, essas aspirações simples tornam-se inalcançáveis, sufocadas por um sistema que impõe barreiras a cada passo.
Um sistema que cobra caro
Um trabalhador do McDonald’s, uma função em comum aqui e nos EUA, ganha R$ 1.600 por mês (R$ 7,27 por hora). Para uma TV 4K de 55 polegadas (R$ 3.000), são 412 horas de trabalho, dois meses inteiros, nos EUA, com US$ 15 por hora (R$ 82,50), o mesmo trabalhador precisa de 33 horas. Uma máquina de lavar (R$ 2.500)? 344 horas no Brasil, 40 horas nos EUA. Um carro popular (R$ 80.000)? Quatro anos de trabalho contra sete meses. Um apartamento de 60 m² (R$ 250.000)? Quinze anos aqui, 4,5 anos lá. Aluguel em São Paulo (R$ 1.813,63/mês)? 249 horas por mês, enquanto US$ 2.500 nos EUA custam 167 horas. O brasileiro trabalha até o esgotamento, mas a vida digna permanece fora de alcance.

Serviços que falham
A inflação, em 5,48% em março de 2025, eleva o custo de alimentos em até 20%. O salário mínimo (R$ 1.518) é um terço dos R$ 6.300 necessários para uma família de quatro pessoas. Impostos consomem 33% do PIB, mas o retorno é pífio. Na saúde, 70% dependem de um SUS com filas e desabastecimento. O transporte público, onde apenas 20% dos municípios oferecem serviços eficientes, força deslocamentos de 2 a 3 horas diárias em ônibus lotados ou engarrafamentos. A falta de logística urbana – com poucos metrôs, trens ou ciclovias – isola periferias, onde a maioria vive, dos centros, onde estão os empregos.
Educação e trabalho corroídos
A educação, que deveria ser um caminho para a dignidade, está em colapso. O Brasil é 53º entre 65 países no Pisa, com alfabetização caindo para 49,4% entre crianças. Apenas 14% dos alunos do ensino fundamental concluem o médio sem interrupção; 11% chegam à universidade. Nas públicas, 30% abandonam a graduação; em cursos técnicos, 25% desistem. Os que se formam enfrentam um mercado desalinhado: 61% dos egressos de áreas como direito e administração estão fora de suas profissões ou desempregados. A qualidade dos profissionais decai, com currículos defasados e professores desvalorizados, enquanto a produtividade brasileira é 25% da americana. A informalidade, em 39,8%, e a escassez de vagas formais limitam o crescimento pessoal e profissional.
Um ressentimento silencioso
Esse cenário não é um acidente. É o fruto de escolhas que priorizam poucos e negligenciam muitos. Por que a infraestrutura urbana não acompanha as necessidades do cidadão? Por que a educação não forma profissionais capacitados? Por que o transporte condena milhões a horas perdidas? A desilusão cresce, um ressentimento velado de quem trabalha incansavelmente, mas vê o básico escapar. Governantes devem responder por essas falhas, com políticas que invistam em saúde, educação, mobilidade e empregos dignos, em vez de promessas vazias.
O peso do básico
Moradia, transporte, educação, trabalho – necessidades básicas, não privilégios. No Brasil, tornam-se fardos. O cidadão comum não pede muito: apenas viver com dignidade, sem o peso diário de contas que não fecham ou serviços que não funcionam. A melancolia de contar moedas para o aluguel ou esperar um ônibus lotado reflete um sistema que falha em cumprir sua obrigação. É hora de nos responsabilizarmos agirmos.