O presidente Donald Trump anunciou nesta quarta-feira o maior aumento de tarifas da história dos Estados Unidos, revelando novas taxações, com o objetivo de revigorar a manufatura doméstica norte-americana, no referido “Dia da Libertação” da américa.
Em pronunciamento no Jardim das Rosas da Casa Branca, Trump apresentou dois novos programas tarifários principais que afetarão trilhões de dólares em comércio: uma tarifa universal de 10% aplicável às importações de todos os países do mundo, e um conjunto separado do que ele chamou de tarifas “recíprocas” com taxas específicas por país.
Estas novas medidas se somam a outros importantes programas tarifários aventados durante sua administração, incluindo as tarifas sobre importações de automóveis e produtos dos dois maiores parceiros comerciais dos EUA, Canadá e México.
De acordo com Erica York, economista da Tax Foundation, o novo regime tarifário de Trump poderá afetar aproximadamente 11% do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos. A decisão veio após meses de especulações de investidores sobre a possibilidade de Trump recuar diante da turbulência causada nos principais índices acionários americanos.
A magnitude das novas tarifas
O primeiro componente da medida impõe uma tarifa automática de 10% sobre todas as mercadorias importadas, com exceção para a importação de petróleo bruto e alguns outros produtos energéticos, segundo informações divulgadas pela Casa Branca.
Separadamente, a Casa Branca também anunciou dezenas de tarifas específicas por país, que os funcionários afirmaram terem sido calculadas com base no que consideram práticas comerciais desleais desses países. Essas tarifas parecem estar sujeitas a negociação, e o método de cálculo de cada percentual não ficou imediatamente claro.
Funcionários da administração explicaram que a taxa de cada país foi baseada em um conjunto de fatores, como: tarifas que outros países impõe aos EUA, nível de “manipulação” de moeda doméstica, responsabilidade sobre o roubo de propriedade intelectual, entre outros.
Abrangendo aproximadamente 185 países, a lista de tarifas é extensa. Entre os países de maior relevância para o comércio internacional, China, Índia, Japão e UE terão tarifas de 34%, 26%, 24% e 20%, respectivamente. Grandes parceiros geopolíticos como Coréia do Sul e Israel também não foram poupados, tendo tarifas de 25% e 17% aplicadas ao seu comércio com os Estados Unidos. Também foram taxados em exorbitantes 50% países com menor relevância global, como é o caso do Lesoto e de Saint Pierre e Miquelon.
Motivações de Trump
A tarifa universal de 10% parece projetada para permanecer em vigor e arrecadar trilhões de dólares em novas receitas que podem ser usadas para ajudar a pagar pelos cortes de impostos apoiados pelo Partido Republicano. Essa tarifa, segundo os aliados do presidente, também proporcionará um incentivo de longo prazo para que as empresas transfiram a produção de volta aos EUA.
Em contraste, as tarifas específicas por país podem ser reduzidas se líderes estrangeiros concordarem em abandonar suas supostas barreiras comerciais, o que significa que essas taxas de importação poderiam ser temporárias. Republicanos no Congresso expressaram otimismo de que algumas dessas tarifas poderiam ser retiradas no futuro.
Adicionalmente, uma motivação não aventada pela mídia com tanta frequência seria o interesse do presidente no próprio enfraquecimento do dólar, através da redução da demanda por dólares no comércio internacional.
Com a imposição de tarifas, os EUA tornam os produtos estrangeiros mais caros. Isso pode levar outros países a buscar mercados alternativos, reduzindo a necessidade de dólares para transações comerciais (e reduzindo a demanda por dólares). Essa estratégia vai de encontro com o “Acordo de Mar-a-Lago”, plano estratégico do secretário do tesouro americano, Scott Bessent, para reindustrializar o país.
Risco de recessão
É difícil determinar se as tarifas de Trump empurrarão os EUA para uma recessão, em parte porque não está claro por quanto tempo as tarifas “recíprocas” permanecerão em vigor. Mas mesmo antes do anúncio de quarta-feira, analistas de Wall Street já indicavam que as chances de uma recessão estavam aumentando, com o Goldman Sachs elevando a probabilidade de 20% para 35%.
Trump reconheceu a possibilidade de uma recessão e disse que alguma dor de curto prazo pode ser necessária para alcançar um reequilíbrio de longo prazo da economia dos EUA. Kim Clausing, que serviu no Departamento do Tesouro durante a administração Biden, afirmou que os riscos de recessão são “extremamente altos” após o anúncio.
Possíveis repercussões para o Brasil
O Brasil não ficou de fora das medidas protecionistas. Todas as exportações brasileiras passarão a ser taxadas em pelo menos 10%, enquanto produtos como aço e alumínio seguirão sujeitos a tarifas específicas de 25%. O impacto pode ser severo para indústrias nacionais que dependem do mercado norte-americano, um dos principais destinos das exportações brasileiras desses setores.
Em resposta ao anúncio, o Senado brasileiro aprovou, em regime de urgência, um projeto de lei que autoriza o governo a retaliar países que impuserem barreiras comerciais ao Brasil. A proposta recebeu amplo apoio do Congresso e do governo, indicando que o país pode adotar medidas semelhantes contra os EUA ou buscar alternativas diplomáticas para mitigar os danos econômicos.
Entretanto, na comparação relativa, o Brasil parece ter “se saído bem”. Considerando que a produção nacional estará sujeita a alíquota mínima, paradoxalmente, os produtos brasileiros podem ganhar competitividade nas exportações para os EUA. Isso porque produtos produzidos em outros países, agora sujeitos a tarifas maiores, assumem uma perda de competitividade em ordem maior, tornando os produtos brasileiros relativamente mais competitivos. Esse raciocínio se aplica para alguns produtos, como: café, papel e celulose, suco de laranja, tomates e derivados, mel, couro e calçados, entre outros.
A produção brasileira desses produtos compete com países como: Colômbia, México, Canadá, China, Vietnã. Todos esses, com exceção da Colômbia, possuem tarifas maiores do que as do Brasil.
Agora nos resta entender se a possível redução na exportação de produtos sobretaxados como aço e alumínio será compensada por um provável aumento na exportação dos outros itens mencionados.