A Falácia Protecionista
A resposta curta seria: o protecionismo não funciona. Isso é fácil de verificar pois os diversos tipos de barreiras comerciais existentes são abundantes pelo mundo. Especialmente nos países subdesenvolvidos, que buscam nessas barreiras alavancar o desenvolvimento da sua indústria doméstica, sem sucesso. O caso da América Latina é extremamente emblemático nesse sentido.
No caso brasileiro, em específico, temos duas políticas frustradas de substituição de importação na nossa conta, para provar que praticar protecionismo sem fomentar outras condições de descentralização dos mercados é contraproducente, para não dizer estúpido. Décadas de proteção não foram suficientes para que nossas indústrias se tornassem competitivas globalmente, e o consumidor brasileiro continuou pagando o preço através de produtos mais caros e com menor qualidade.
Exceções Estratégicas e Casos de Sucesso
Entretanto, certas medidas protecionistas podem ser uma ferramenta para atingir objetivos específicos, sob a condição de que essas políticas sejam implementadas em um ambiente fértil para a competição e a livre iniciativa.
Coreia do Sul e Taiwan são frequentemente citados como casos onde o protecionismo temporário funcionou. Estes países adotaram proteção seletiva para indústrias estratégicas, sempre com prazo determinado e metas claras de desempenho exportador. Enquanto protegiam setores específicos, investiam pesadamente em educação, infraestrutura tecnológica e pesquisa aplicada.
Na Coreia do Sul, o governo apoiou conglomerados como Samsung, LG e Hyundai, mas exigia em contrapartida metas rigorosas de exportação e qualidade. Em Taiwan, a proteção da indústria de semicondutores levou ao desenvolvimento da TSMC, hoje líder global na fabricação de chips semicondutores. Em ambos os casos, o protecionismo foi uma ferramenta temporária dentro de uma estratégia maior de competitividade global.
O Abismo entre Ásia e América Latina
O que diferencia fundamentalmente estes casos dos países latino-americanos é a implementação e a visão estratégica. Enquanto a América Latina perpetuou proteções sem prazo de expiração e sem exigências de desempenho, criando oligopólios ineficientes e mercados cativos, os tigres asiáticos implementaram políticas com “data de validade” e métricas claras de sucesso.
Na Ásia, os subsídios e proteções estavam condicionados a metas rigorosas de exportação e qualidade, forçando as empresas a se tornarem verdadeiramente competitivas. No Brasil e outros países latino-americanos, as empresas protegidas puderam acomodar-se em mercados cativos, sem pressão real para inovar ou aumentar a produtividade.
Além disso, o ambiente institucional fez toda a diferença. Os países asiáticos mantiveram estabilidade macroeconômica, burocracia eficiente e segurança jurídica, reduzindo custos de transação. Promoveram uma abertura gradual e planejada, enquanto a América Latina oscilou entre extremos de protecionismo e liberalização abrupta durante crises.
Trump e o Novo Protecionismo Americano
O cenário global atual traz à tona novamente o debate sobre protecionismo com as políticas implementadas por Donald Trump em seu retorno à presidência americana. Diferentemente do protecionismo desenvolvimentista dos países em ascensão, as tarifas de Trump visam principalmente resgatar indústrias maduras em declínio e responder a pressões políticas internas.
A administração Trump tem sinalizado a implementação de tarifas generalizadas e exorbitantes, em alguns casos ultrapassando os 50%. Esta abordagem representa uma ruptura significativa com o consenso de livre comércio que guiou a política comercial americana nas últimas décadas.
Os defensores dessas medidas argumentam que elas protegerão empregos americanos e reduzirão a dependência de fornecedores estrangeiros em setores críticos. Críticos, no entanto, apontam que tarifas elevadas aumentarão custos para empresas e consumidores americanos, desencadearão retaliações de parceiros comerciais e possivelmente acelerarão tendências inflacionárias.
Lições para o Futuro
O contraste histórico é claro: enquanto a Coreia do Sul transformou-se de um país agrário em uma potência tecnológica em poucas décadas, o Brasil, apesar de seu protecionismo duradouro, mantém uma indústria de baixa competitividade global que depende cronicamente de proteções para sobreviver.
As novas tensões comerciais globais reforçam a lição de que medidas protecionistas podem funcionar apenas como instrumentos temporários dentro de uma estratégia mais ampla voltada para a competitividade. Sem reformas estruturais que reduzam custos sistêmicos, sem investimentos em capital humano e sem um ambiente que recompense a inovação, o protecionismo apenas cria indústrias ineficientes que oneram o consumidor e prejudicam o desenvolvimento econômico sustentável.
O verdadeiro desenvolvimento econômico vem não do isolamento, mas da capacidade de competir nos mercados globais. As tensões comerciais atuais, embora possam trazer ganhos políticos de curto prazo, dificilmente resultarão em benefícios econômicos sustentáveis.
A verdade é que o protecionismo puro e simples, como o praticado pelo Brasil e aventado pelo presidente Trump, tende a trazer mais consequências negativas do que positivas. Logo, probabilisticamente, o que veremos no futuro é uma diminuição do comércio global e, por conseguinte, uma diminuição no ritmo de desenvolvimento dos países do globo.