Como as matérias humanas podem resolver problemas na cultura catarinense quando as pessoas falham em mobilizar politicamente.

Há um problema na direita global que países como EUA têm corrido atrás para recuperar o tempo perdido. As matérias acadêmicas não são exclusivas da esquerda, não foram criadas pela esquerda e nem deveriam estar na mão dessa gente. Vamos entender o grande erro da direita global em achar que basta ler, escrever e fazer contas para um jovem se tornar um cidadão digno, assim como grandes contribuições podem vir dessas matérias, podendo tornar nossa situação mais produtiva e nosso povo mais unido.
Por Kiusley de Souza Silva
Professor de Filosofia formado na UFSC
Este que vos escreve sem dúvida pode ser visto como alguém que pertence ao campo da direita, justamente por esse motivo minha proposta é ocupar espaços para que a esquerda não ocupe. É importante reparar que de fato a mente do catarinense médio já está colonizada ideologicamente por ideias de esquerda. Veremos isso mais de perto.
O brasileiro de direita em grande medida é colonizado por diversos princípios progressistas liberais, como por exemplo, se achar autossuficiente quando se trata de estudar e raciocinar, que basta ler alguns livros de pensadores independentes para se considerar capaz de oferecer respostas inteligentes em discussões políticas. Entretanto, essas respostas costumam se dar numa interpretação limitada da realidade, no sentido de se limitar apenas aos casos de autores como Olavo de Carvalho, como se suas obras conseguissem compreender a realidade como um todo.
Na prática, esse tipo de raciocínio leva as pessoas a se dividir em “blocos opinativos”, confiando em seu conjunto de respostas prontas como suficientes para dar conta da realidade. O bloco não consegue convergir para lidar com os problemas da realidade política, cada um julga a ideia alheia como inferior e acabam não se mobilizando para atuar politicamente. Esse senso de independência, um exagero de confiança nas próprias teses, resulta naquilo que chamamos de “imobilismo”.

O imobilismo era uma crítica comum direcionado aos filósofos continentais, também entendidos como visionários progressistas que não tinham conexão alguma com o mundo real.
Imagine uma tribo pré-histórica. Geralmente pensamos num grupo de coletores cuja unidade é mantida através do mito fundador que é transmitido de forma oral pelos seus anciãos. Pense no que aconteceria se cada ancião inventasse a sua versão do mito, julgando saber mais e oferecendo respostas melhores. Facilmente podemos concluir que uma baita confusão resultaria neste caso, com jovens confusos, que perderiam sua confiança nos mais velhos e por tanto acabariam não herdando e passando para frente os mitos fundadores, abrindo margem para uma sociedade cada vez mais rachada e desorganizada.

Esse exercício oral foi substituído por práticas escolares e universitárias, e os antigos mitos, por senso de cidadania e disciplinas das ciências humanas. Em países bem desenvolvidos essa fórmula funciona muito bem, pois em geral sua cultura consegue estabelecer consensos sobre princípios (modos de agir e de pensar) comuns para todos.
A classe dos acadêmicos, em particular os cientistas das humanidades, deveriam ser pagos para fazer a manutenção dos princípios. Isso significa preservar tudo aquilo que funciona, aprofundar seu entendimento sobre estes, além de corrigir defeitos do senso comum e aprimorar todo esse conjunto.
O que temos hoje? Uma parte da academia é formada por pessoas que realizam trabalhos relevantes, mas que não alcançam a população, enquanto outra parte atua ativamente para moldar o pensamento de jovens e jovens adultos com valores estrangeiros (o progressismo liberal) que, muitas vezes, prejudicam o modo de vida brasileiro.
Santa Catarina carece de um conjunto consistente de ideias para que a população possa diferenciar essas coisas e combater realmente a doutrinação nas academias, para que o dinheiro público seja respeitado. Minha proposta é justamente olhar para o que temos de melhor e começar a construir, resgatando vários valores que temos em comum, que herdamos dos nossos antepassados.
O ganho que podemos tirar disso não apenas é interessante como um requisito para qualquer país desenvolvido atingir determinado status. A cultura saudável existe apenas perante uma linha bem determinada de ação que permite às pessoas se conectarem numa relação de confiança. Uma relação de confiança reduz a necessidade de burocracias, torna as relações sociais muito mais flexíveis, eficientes e, portanto, de fácil compreensão. Há uma consistência (previsibilidade) muito maior na convivência quando vivemos numa situação de coerência social. A falta de coerência social evidentemente nos leva para relações pouco conectadas, com baixa perspectiva de futuro e constantes conflitos de interesse. Conflitos esses gerados pela falta de noção sobre como tirar o melhor das nossas relações sociais quando construímos
Haveria muito o que discutir ainda, explicar o que realmente é ciências humanas, o que deveria ou não ser investido, em que medida deveria ser investido, se o currículo escolar deveria ser mudado e como. Muitas coisas mesmo, mas como o ser humano funciona melhor em pacotes, nossa coluna vai ficando por aqui. Lembrem-se, parafraseando grandes mentes do conservadorismo clássico, o custo da liberdade é a eterna vigilância.

A ironia sobre Rousseau que criticava a sociedade mas admitia a dependência humana sobre a mesma. Por outro lado, a banalização do senso crítico ao tornar-se mera postagem de redes sociais, quando costumava vir de pessoas mais velhas e muito estudadas.