Durante evento do Valor hoje em São Paulo, o ministro da Fazenda Fernando Haddad testou os ânimos do mercado ao não descartar uma alteração nos parâmetros do arcabouço fiscal, já antecipando um possível não cumprimento do centro da meta fiscal em 2025.
Haddad afirmou que há diferentes níveis de discussão sobre o arcabouço. Um deles, disse o ministro, seria sobre a arquitetura da regra, que envolve uma regra de gastos e uma meta de resultado primário. O outro, apontou, é o dos parâmetros para essas regras.
“Depois, quando tiver estabilidade da dívida/PIB, uma Selic mais comportada, inflação mais comportada, você vai poder mudar os parâmetros do arcabouço. Mas, na minha opinião, não deveríamos mudar a arquitetura”, afirmou o ministro.
“Penso que todo mundo considera uma arquitetura robusta”, disse o ministro. “Agora, ninguém discorda de que vai ter de fazer ajuste da máquina. Você está pilotando um carro, você não vai até seu destino sem parar numa mecânica, no posto, você vai ter de fazer reparos na máquina para ela andar bem. Mas penso que do ponto de vista da arquitetura estou confortável com o modelo atual.”
Haddad reforçou que “são níveis diferentes de debate”.
“Quando você fala que tem de mudar tudo ou não tem de mudar nada, confunde um pouco o debate. Do ponto de vista da arquitetura, que é regra de gasto e meta de primário, eu acho que o arcabouço funciona. Ah, mas qual a meta de primário? Qual o parâmetro de gasto? Isso você pode ajustar, não tem problema, não vai estar ferindo o princípio geral. Um é um problema de arquitetura, outro é de engenharia”, afirmou.
O ministro, muito bem versado na arte da política, testa o humor do mercado financeiro com as suas afirmações, em uma clássica estratégia de balão de ensaio.
Enquanto o ministro participava do painel, os ativos domésticos, que operavam perto da estabilidade na abertura da sessão, apresentaram rápida piora, com alta firme do dólar, nos juros futuros e queda no índice ibovespa.
Após o painel, ao ver a repercussão negativa das suas falas, o Haddad se retratou no X (antigo Twitter):
Estão tentando distorcer o que falei agora em um evento do Valor. Disse que gosto da arquitetura do arcabouço fiscal. Que estou confortável com os seus atuais parâmetros. E que defendo reforçá-los com medidas como as do ano passado. Para o futuro, disse que os parâmetros podem…
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) March 24, 2025
Ao ser questionado sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026, a ser apresentada na próxima semana, Haddad afirmou que a meta de superávit primário de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB) não é tranquila, sem confirmar diretamente se será mantida ou alterada. O ministro, porém, enfatizou a necessidade de colaboração de todas as esferas para alcançar o resultado primário pretendido. “Todo mundo precisa ajudar: o Judiciário, o Legislativo; e o Executivo precisa se ajudar porque nem sempre se tem a compreensão da necessidade e do papel da Fazenda e do Planejamento.”