A deterioração das expectativas na ponta longa da curva dificulta a convergência da inflação à meta e demanda uma taxa de juros mais elevada por um período prolongado, alertou o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central em ata divulgada nesta terça-feira (25).
O comitê destacou que as projeções de inflação voltaram a subir em todos os horizontes, tornando o cenário “mais adverso”. Para os membros do colegiado, essa questão gera preocupação e exige monitoramento constante.
“O cenário de convergência da inflação à meta torna-se mais desafiador com expectativas desancoradas para prazos mais longos e exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”, informou a ata.
De acordo com o último boletim Focus, o mercado projeta que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) encerre 2026 próximo a banda superior da meta definida pelo Banco Central, de 4,5%. Para os anos de 2027 e 2028, as previsões apontam valores de 4% e 3,78%, respectivamente.
A meta central da inflação é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se os índices permanecerem entre 1,5% (mínimo) e 4,5% (máximo).
Na última quarta-feira (19), o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, passando de 13,25% para 14,25% ao ano, patamar semelhante ao registrado durante a crise do governo Dilma Rousseff (PT).
O comitê também indicou que novas elevações nos juros podem ocorrer na próxima reunião, em maio, mas com um ajuste de menor intensidade. Apesar dessa sinalização, o Copom evitou se comprometer com um percentual exato para a Selic.
No documento, o colegiado transmitiu três mensagens principais sobre a política monetária.
“Primeiramente, julgou que, em função do cenário adverso para a dinâmica da inflação, era apropriado indicar que o ciclo não está encerrado”. “Em segundo lugar, em função das defasagens inerentes ao ciclo monetário em curso, o Comitê também julgou apropriado comunicar que o próximo movimento seria de menor magnitude. Além disso, diante da elevada incerteza, optou-se por indicar apenas a direção do próximo movimento”, informou a ata.
O Copom avaliou que os indicadores mais recentes sugerem uma “incipiente moderação do crescimento” econômico. No entanto, pontuou que o mercado de trabalho segue robusto e que é necessário agir com “parcimônia” antes de tirar conclusões definitivas sobre esse cenário.
“O comitê reforçou que alguns indicadores mais recentes, como de serviços, indústria ou população ocupada têm indicado moderação de crescimento após extraordinária resiliência no mercado de trabalho e na atividade econômica”, afirmou. “Ainda que dados recentes sugiram alguma moderação, o mercado de trabalho permanece aquecido”, acrescentou.
O setor de crédito, segundo o comitê, permaneceu “pujante” nos últimos trimestres. No entanto, há sinais de desaceleração no crédito bancário mais recentemente, em meio ao aumento das taxas de juros, menor disposição ao risco na concessão de crédito e redução no ritmo de novas operações.
O Copom enfatizou que seguirá monitorando a evolução do PIB (Produto Interno Bruto) e reforçou a necessidade de um desaquecimento da economia para atingir a meta de inflação.
No mercado, há preocupação com a política fiscal expansionista adotada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Diante da queda na popularidade do presidente, foram anunciadas medidas para estimular a economia, como a criação de um novo crédito consignado para trabalhadores do setor privado e a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para aqueles que ganham até R$ 5.000 mensais.
Sobre a questão fiscal, o comitê reiterou que as políticas devem ser previsíveis e confiáveis, além de reconhecer que a percepção negativa dos agentes econômicos sobre a sustentabilidade das contas públicas tem influenciado a precificação de ativos e as expectativas do mercado. “O debate do comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”, reforçou.
“O esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia [aquela que não estimula nem desestimula a economia]”, afirmou. Segundo o comitê, isso impacta negativamente a eficácia da política monetária. Em dezembro do ano passado, o Copom revisou para cima a estimativa da taxa neutra, elevando-a para 5%.